As mulheres estiveram mais tempo afastadas do mundo do desporto devido à ideia de que o seu corpo era mais fraco que corpo masculino e que vários desportos eram prejudiciais à sua própria saúde. No entanto, mais tarde, esta ideia desvaneceu-se através da inexistência de “fundamentação biológica da fraqueza feminina…”, e do “reconhecimento dos benefícios que o desporto promovia no âmbito da saúde, torna os médicos os principais agentes da incursão das mulheres no mundo das experiências desportivas, libertas de tabus e preconceitos, sob o lema da vitalidade e do vigor físico, aspectos fundamentais da maternidade e do parto bem sucedido.”
As dificuldades sentidas pelas primeiras atletas
“As primeiras mulheres portuguesas que se atreveram à experiência da prática desportiva, foram tomadas por «palhaças» eram ridicularizadas procurando-se deste modo, constranger e inibir quaisquer audácias”.
Mas o prazer e o gosto extraordinário que as proezas desportivas proporcionam, fizeram com que o desporto, mais concretamente, a vitória deixasse de ser um privilégio só dos homens. Contudo, só isto não chegava, porque as desportistas eram constantemente alvo de «severas críticas» em relação ao sentido estético de intervenção feminina no desporto em que devido ao excessivo esforço, o espectáculo tornava-se deselegante e ridículo devido ao suor, que não estava associado à imagem de uma mulher.
Nas primeiras décadas do século XX, as mulheres começam a estar presentes no mundo do desporto “como participantes empenhadas e como publico atento”, sendo as actividades escolhidas, realizadas com empenho e regularidade. Os desportos mais praticados eram, como elas próprias defendiam, desportos que ofereciam segurança e resultados higiénicos. Como exemplo, temos a natação que é um desporto higiénico e que se pode constatar que até aos anos 70 era uma das modalidades com a maior taxa de participação feminina, com cerca de 40% do total das mulheres que praticavam desporto.
Ao longo da história do desporto, “edificaram-se modelos femininos e masculinos de práticas desportivas que acentuam a separação no mundo do desporto, entre homens e mulheres…”. Assim, alguns elementos sociais não negaram a participação da mulher, tentando, isso sim, que ela interviesse em áreas mais precisas, “como membro activo, assumindo um papel mais feminino, de apoio e dinamização no seio das Sociedades de Recreio”.
“Em Portugal, no entanto, até 1952 as participações femininas nos desportos de competição aos mais altos níveis, foram fugazes. Nesse ano, aos Jogos Olímpicos de Helsínquia compareceram apenas três atletas femininas na disciplina de ginástica…”. Só a partir de 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles é que Portugal contou com a presença de cinco representantes no Atletismo. Foram elas, Aurora Cunha, Conceição Ferreira, Rosa Mota, Rita Borralho e Albertina Machado.
Este foi um marco bastante importante na história do Atletismo Feminino. Ao contrário do que defendia o Professor Moniz Pereira quando afirmou que “a maratona era uma prova a proibir às mulheres, pois as exigências físicas dessa prova extravasavam das suas reais possibilidades”.
Rosa Mota
Com a medalha de Bronze obtida pela atleta Rosa Mota, neste ano, a frase acima referida é facilmente refutável. Contudo, esta não foi a única medalha obtida por esta atleta, tanto que em 1988, nos Jogos Olímpicos de Seoul, esta viria a conquistar o primeiro título olímpico da história do Atletismo Feminino, com a marca de 2h25mn40s, levando a melhor sobre Lisa Martin (AUS) e Katrin Dorre (RDA), respectivamente.
No total, esta atleta obteve 8 medalhas em grandes competições internacionais. Entre campeonatos da Europa, do Mundo e Jogos Olímpicos, se contabilizam cinco medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze.
Fernanda Ribeiro
A esta atleta sucede-se Fernanda Ribeiro que para além do seu título olímpico em 1996, nos Jogos de Atlanta, nos 10000 metros, coleccionou mais 14 medalhas em grandes competições internacionais, sendo a atleta feminina com mais medalhas.

“Por detrás de um brilho enganador das medalhas obtidas em provas internacionais, a verdadeira realidade surge frágil e não significativa quando se pretende conhecer, de facto, a expressão da participação regular da mulher portuguesa nas actividades portuguesas nas actividades desportivas em geral.”
Como está implícito na afirmação anterior, as atletas femininas, apesar das dificuldades que sempre tiveram de enfrentar, têm mais medalhas obtidas em relação aos atletas masculinos.
Se olharmos para os resultados obtidos pelas atletas portuguesas, principalmente no atletismo, e tivermos em conta os títulos internacionais e lugares de destaque alcançados por estas, de certo ficamos com uma ideia errada do que é o panorama do atletismo feminino em Portugal. Tal situação trouxe uma nova responsabilidade à Federação Portuguesa de Atletismo. O desafio de organizar o seu trabalho de uma forma intensiva, de forma a criar um entendimento mutuo entre os atletas, masculinos e femininos. Assim, as últimas décadas aparentemente mostram uma atenção diferente ao desporto feminino no nosso país e às práticas competitivas femininas. Isto acontece graças ao trabalho das corredoras Portuguesas. Vivemos tempos em que há cada vez mais pessoas a aderirem à prática desportiva. Damos o exemplo da nossa cliente Luísa Soares, que conta a sua história no nosso site em
testemunhos, onde faz referência à sua participação na meia maratona da ponte 25 de Abril, tendo conseguido alcançar o primeiro lugar no seu escalão. Há exemplos como o da Luísa que nos dão razões para acreditar que as mulheres estão a aderir cada vez mais ao exercício físico chegando até a este nível de performance. A Luísa Soares, apesar de ter um trabalho exigente e uma vida ocupada, consegue gerir o seu tempo para treinar e se manter em forma.
Autor: David Inácio